A propósito de uma crónica de Ferreira Fernandes publicada no Diário de Notícias ««
Primeiro contacto técnico do FMI »», em conversa com um conhecido meu, assumidamente de esquerda-centro (sim, porque é mais de esquerda do que do "centro"), dizia-lhe eu:
"Este texto está muito bom. Retrata a nossa sociedade com uma boa dose de humor. O gajo (peço desculpa ao Ferreira Fernandes pelo termo) conseguiu uma grande crónica."
A resposta do meu conhecido esquerdista (raramente do centro) foi qualquer coisa como:
"Não consigo achar piada. Além disso é mais um bota-abaixo ao nosso povo. Diz mal da classe trabalhadora (o taxista, digo eu) e goza com os precários e desempregados (a filha do taxista, digo eu). Parece que somos todos ladrões e calões".
Face a tal argumentação, ainda insisti e perguntei:
"Mas não consegues ver a piada da coisa?.
O visado declarou-me um redondo e enorme:
"NÃO!"
Passado dois ou três dias, ironia do destino, fui parar ao perfil público do Miguel Portas no Facebook (sim, perfil público, pois não sou amigo do senhor). E qual não é o meu espanto quando vejo o seguinte post:
O espanto não foi pelo post publicado (apesar de não concordar com as suas ideias, reconheço valor, inteligência e bom senso ao Dr. Miguel Portas) mas sim pelo
link que dá acesso ao
"
gosto" deste
post (linguagem para utilizadores do facebook...modernices).
Adivinham quem fez um clique no "gosto" deste post? Claro, o meu conhecido esquerdista (raramente do centro). Garanto-vos que o riso foi apenas interior, mas foi com vontade. Ainda não voltei a encontrar o meu conhecido esquerdista (raramente do centro) e quando o fizer nem sei se lhe falarei em tal incoerência.
Posto este pequeno episódio apraz-me dizer o seguinte:
A maioria do povo português é igual ao meu conhecido esquerdista (raramente do centro); para eles o importante é quem diz e não o que se diz. Entra-se facilmente no rebanho e raramente se pensa para onde o rebanho os leva ou naquilo que lhes grita o pastor. E mesmo que haja uma raposa que os possa salvar, jamais irão com ela, pois nem sequer ouvem ou pensam no que ela lhes disse.
Talvez por isso, há alguns anos, alguém me disse: "Dificilmente chegarás longe na política. Pensas demasiado pela tua própria cabeça".
E este pequeno episódio é recorrente no nosso quotidiano pessoal, profissional e social. É recorrente na classe política. É recorrente no nosso país.
Talvez seja algo a corrigir por todos nós para podermos ter uma país mais sério, mais justo e mais desenvolvido.