sábado, 2 de julho de 2016

AINDA O BREXIT

Muito se tem dito sobre a saída do Reino Unido (RU) da União Europeia (UE). Das inúmeras variantes que a questão coloca, uma das mais interessantes, e tendo em conta o resultado do referendo, é a possibilidade da Escócia continuar na UE, aliás, vontade já manifestada por Nicola Sturgeon, Primeira-ministra escocesa.

Esta hipótese escocesa já foi contestada por alguns representantes de outros Estados Membros da UE, nomeadamente, os espanhóis, com algum receio de um fenómeno copycat por parte da Catalunha ou mesmo do País Basco.

Mas há questões históricas recentes a ter em conta que conferem legitimidade à pretensão escocesa.

Em 1973, data da adesão do RU à Comunidade Económica Europeia (actual UE), o cenário político era completamente distinto do actual. Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte (1) eram desprovidos de governos próprios, estando sob o jugo governativo de Londres.

Só em 1998 com o Scotland Act, o Wales Act, e o Northern Ireland Act é que estes países passaram a ter um governo próprio e consequentes responsabilidades e autonomias.

Este "simples" facto altera por completo a forma com a Europa deve olhar para a Escócia. Não obstante a natural evolução do relacionamento, dos diversos acordos e regimes de excepção que o Reino Unido tem negociado com a UE desde 1973, a realidade política e formal passados 43 anos é totalmente diferente.

O cenário e a legitimidade institucional da Escócia de hoje é completamente distinto da época da adesão à CEE.

É por isso prudente e sensato (além de legítimo) que os responsáveis europeus oiçam e analisem o caso escocês à luz de 2016. Tal como o próximo governo inglês deverá estar aberto e sensível aos anseios dos escoceses, não optando por uma posição fechada desde o início. 

A história e as relações internacionais são mutantes e dinâmicas. Não estar atento aos fenómenos evolutivos dos estados, das nações, dos povos e das relações entre todos, pode ser perigoso. A história já nos demonstrou isso. Que não se cometam os mesmo erros.

(1)No caso da Irlanda do Norte, a Direct Rule de 1972 suspendeu o anterior governo até ao Belfast Agreement de 1998