sábado, 5 de maio de 2012

AINDA O PINGO DOCE...


Ainda o PINGO DOCE:

#1
Se praticaram dumping o que dizer dos 75% em cartão do Continente, dos 50% do Ikea, das black fridays do El Corte Inglês, do pague 1 e leve 2 que prolifera nas montras nacionais e das centenas de descontos superiores a 50%, fora da época de saldos e de forma apenas ocasional e promocional, por este país fora?

#2
Se as grandes cadeias de distribuição (leia-se grandes grupos económicos) têm margens muito elevadas, queixam-se os produtores, o que pensar das margens praticadas nos mercados municipais, mercearias de bairro, mini-mercados em terras de praia e de outro turismo?

#3
Não conhecendo, tecnicamente, tudo o que rege a prática de dumping, houve algum produto à venda no Pingo Doce, no dia 1 de Maio, que o preço de venda estivesse afixado abaixo do preço de custo? Ou apenas se tratou de um desconto final sobre a totalidade das vendas?

#4
Serão as vendas em grupo, existentes em dezenas de sites da internet, que atingem descontos na ordem dos 70 a 90 %, práticas de dumping? Ou tal como o desconto do Pingo Doce, apenas formas promocionais para aumentar as vendas e fazer escoar os produtos / serviços? 

#5
Não terá havido um aproveitamento político/social em todo este "caso"? Não terão as pessoas, de uma maneira geral, ficado escandalizadas com a euforia, o histerismo, a falta de civismo, o desespero e quase a loucura das pessoas, que foram vistas nas imagens televisivas (e ao vivo, para quem lá esteve) e, virado a sua aversão e repúdio, para o grupo económico em causa?

#6
Será que a maioria das pessoas que, durante as semanas antecedentes ao 1º de maio, nos cafés, locais de trabalho, transportes públicos, na rua, nos vox pop televisivos e afins, afirmaram a sua discordância e compaixão para com os funcionários das grandes cadeias de distribuição, que teriam de trabalhar no feriado -  Dia do Trabalhador - foram às compras ao Pingo Doce neste dia?

#7
Para quem já esteve em frente ou já viu uma multidão que se esgatanha, se atropela, se esbofeteia, que utilizam crianças, que ofende, que agride, que tem colapsos, que grita, etc... por apenas uma caneta ou um avental de plástico de uma qualquer força partidária, numa fila para receber um gelado de borla, numa fila para comprar um bilhete de futebol, numa praia para conseguir o maravilhoso frisbee ou por um simples jornal gratuito, aquilo que foi visto na passada terça-feira não pode espantar, nem ser atribuído à crise; é apenas mais uma demonstração da bestialidade natural e primitiva do ser humano. E todos a temos; uns mais, outros menos; uns de forma regular, outros de forma esporádica.

#8
Para finalizar e, ressalvando o facto de que não sou funcionário, accionista, advogado, cliente assíduo ou amigo do grupo económico que detém a cadeia de distribuição do Pingo Doce, parece-me que o Grupo Jerónimo Martins teve dois grandes méritos nos últimos tempos: 
- de desmistificar a escolha da Holanda como sede fiscal de uma empresa portuguesa. Após a comunicação que o tinha feito, a imprensa foi mostrando ao país, que afinal existem dezenas de grandes empresas que já tinham as suas sedes fiscais no país das tulipas e que mal nenhum advinha ao mundo por isso;
- que o mundo das promoções, descontos, margens de lucro, relação entre produtores e distribuidores não é tão linear como a maioria pensava. Este "caso" Pingo Doce não é um exclusivo desta cadeia, mas transversal a todo o sector e à maioria das atividades económicas... em Portugal e no mundo inteiro.

Este é um "caso" para pensar de janeiro a janeiro e não apenas no dia 1 de maio.