O que aprendi nos últimos meses com a política portuguesa?
Aprendi que não interessa qual o partido ou coligação mais votada. Tudo se resume (dentro da legalidade) aos acordos parlamentares pós-eleitorais;
Aprendi que não é fundamental os partidos enunciarem qual o representante que se apresenta como pretendente a primeiro-ministro. O que conta é a solução emanada
dos ditos acordos parlamentares pós-eleitorais;
Aprendi que as matérias urgentes a discutir em início de legislatura são todas aquelas que o anterior governo não aprovou (não vou discutir a sua importância ou manifestar
a minha opinião sobre elas);
Aprendi que o importante é recusar qualquer tentativa de orçamento, independente do que ele contém. O que deve ser analisado é quem o elaborou;
Aprendi que alguém que tenha muita exposição mediática não deve concorrer a actos eleitorais. É considerado “batota” e “desonestidade”. Todos devem ter no
seu passado o mesmo “tempo de antena”;
Aprendi que afinal não gastar fortunas em campanhas não é justo. O que se quer é muitos outdoors, flyers, canetas, t-shirts e sacos de plástico;
Aprendi que mulheres com “caras engraçadas” e com discurso fluido não podem ser candidatas, pois não estão de acordo com a linha cinzenta e decrépita que deve ser
mantida por todos os candidatos;
Aprendi que devemos manifestar e bradar a independência face aos (terríveis e nefastos) partidos políticos. Mas se obtivermos resultados catastróficos, devemos culpar
os (terríveis e nefastos) partidos que não nos deram apoio nem serventia;
Aprendi que concorrer a eleições isoladamente ou em coligação pouco interessa. Para determinar vitórias em eleições, a soma das partes é SEMPRE maior que a maioria
simples que os votantes escolheram;
Aprendi que qualquer um (partido, pessoa, coligação) que seja repetente em eleições só pode ser considerado vencedor se obtiver mais votos que da última vez que concorreu;
Aprendi que é fundamental para um candidato opinar sobre tudo e sobre nada. Cingir o seu discurso às matérias das competências do cargo a que se candidata é fugir ao
confronto, é não ter opinião;
Aprendi que as pessoas não têm o direito de mudar e/ou evoluir nas suas opiniões. Alguém que, por exemplo, aos 16 anos de idade tenha afirmado que é contra algo (nem
interessa o quê), deve manter essa posição até ser octogenário (no mínimo) e, se possível, punido eleitoralmente por essa mesma posição;
Aprendi que quando as condições climáticas não interferem nos actos eleitorais, dever-se-á, rapidamente, encontrar outros motivos divinos ou naturais que possam justificar
a ausência de eleitores;
Aprendi que a abstenção são os insatisfeitos com os anteriores titulares dos cargos agora sujeitos a sufrágio. Nada tem a ver com o completo desinteresse pela política
nacional, ou por falta de atitude cívica. O “povo” nunca é culpado... É uma espécie de «o cliente tem sempre razão»;
Aprendi que a política portuguesa, neste momento, resume-se a esquerda e direita (seja lá isso o que for...), na senda do «ou estás comigo, ou estás contra mim»;
Muitas coisas que aprendi e que continuarei a aprender com a política portuguesa. Isso é mau? Claro que não!
Se andar por cá mais alguns (muitos, já agora) anos, espero continuar a aprender coisas novas todos os dias.
Nada deve ser imutável , muito menos a política, os políticos
e a forma como cada um de nós vê o mundo que nos rodeia.
Mudarmos de opinião e de hábitos é sinal que estamos vivos, que pensamos, que nos preocupamos, que evoluímos, e neste caso da política, que temos capacidade crítica
e que nos importamos com quem gere o nosso dia-a-dia.
Por isso, estas lições que retirei dos últimos meses políticos em terras lusitanas, com certeza, tornar-me-ão mais elucidado para um futuro próximo. Obrigado a todos
os intervenientes nos vários processos eleitorais e afins!