quinta-feira, 26 de março de 2015

VERDADEIRA CONVICÇÃO OU FALÁCIA DA RAZÃO?

A defesa pública e idílica de causas e valores, como se de algo inconcusso se tratasse, tem tanto de verdadeiro como de falacioso.

Com raras e honrosas excepções, como em tudo, a crença nos valores igualitários é sempre, consciente ou inconscientemente, suportada pelas nossas próprias convicções, ideais e crenças, que serão sempre diferentes das dos outros.

Há, sempre houve, e sempre haverá, factores endógenos a cada um dos indivíduos que sobrepõem-se às causas e valores exógenos. Negá-lo é hipocrisia.

Se assim não fosse, determinados acontecimentos ou fenómenos teriam iguais reacções de todos, e por todo o mundo. Seria como que uma uniformização de valores morais, culturais e filosóficos.
 
A universalidade de pensamento e de valores é contrária ao livre arbítrio de cada um de nós. É quase como anti-natura.
A história está repleta de tentativas de padronizar o mundo, mas até hoje todas fracassaram.
O equilíbrio entre as diferentes regras societais e o respeito pelo valores individuais tem sido o "segredo" da evolução da espécie humana e do mundo.

Cada pessoa é o resultado da sua evolução e do seu processo de socialização, num determinado meio, num determinado contexto, numa determinada realidade, de acordo com as suas experiências sociais, e com a interiorização dos padrões culturais de conduta institucionalizada.
E todas as formas de interacção são como uma impressão digital de cada um de nós. Não há igual.

O mundo não é axiomático e está em permanente mutação!
Tal como o indivíduo.

O respeito pela diversidade não se confina a valores religiosos ou diferenças raciais. Estende-se por toda a nossa personalidade, por toda a nossa vivência, por tudo aquilo em que acreditamos, pelo todo da nossa existência social.
O respeito pelo próximo é também «ser romano, em Roma», respeitando as regras fora da nossa zona de conforto.

É verdade que, à luz do mundo de hoje, existem valores e causas transversais a todas as sociedades e indivíduos, mas mesmo assim suportadas e defendidas de diferentes maneiras por cada sociedade ou pessoa. 
Por exemplo, o direito à vida, pode ser comummente aceite, mas suportado por diferentes ordens de razão; uns poderão defendê-lo pela crença divina, outros pela razão jurídica, outros até pelo egocentrismo.

Serão alguns valores mais válidos que outros?

Serão algumas causas mais justas e/ou humanitárias que outras?

Teremos todos que atribuir o mesmo grau de importância às inúmeras questões que nos rodeiam?

Será possível universalizar algo para sete mil milhões de casos únicos? 

E quem pode ou tem a moralidade de impor valores a terceiros?

O mundo é complexo e diverso, o que o torna fascinante.
Também o ser humano se caracteriza por isso.

E não entender esta diversidade e complexidade, é não entender o mundo, é não compreender a liberdade de pensamento, é não perceber quem está ao nosso lado.
Julgar que pode existir algo que apenas pode ser visto por um único prisma, ou achar que há verdades absolutas, é como viver numa redoma forrada a espelhos.
Nem a morte é indubitável.

Por isso, retomando a linha inicial, sempre que vejo uma argumentação baseada no "é, porque é", ou em lengalengas próprias de cartilhas sectaristas e unilaterais de pensamento, ou em frases feitas que mais não são do que lugares-comuns obsoletos, ponho em causa a consciência e as razões pelas quais se defendem alguns valores ou causas. 
Daí a bipolaridade: verdadeira convicção ou falácia das razões.

Mas isto sou eu, céptico e agnóstico confesso... até ver.

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