Após leitura do blog de um amigo fala-barato.blogspot.com resolvi complementar, com outro ângulo, a sua opinião.
INDIGNADO SOU EU!
Indignado sou eu porque, nos últimos anos, fui obrigado a assistir a uma sociedade desmazelada e auto-destrutiva.
Os que agora se proclamam indignados são os mesmos que:
- Viveram sempre para além das reais possibilidades;
- Endividaram-se em créditos para as férias no México o na Rep. Dominicana; para os plasmas, lcds e playstations; para máquinas fotográficas profissionais (ou perto disso) que apenas utilizam no natal; para carros iguais ou melhores que o dos vizinhos; para casas iguais às que tinham mas no condomínio ou prédio do chefe (fica sempre bem); com créditos para pagar outros créditos;
- Queixam-se do preço dos livros escolares e das propinas dos filhos mas não abdicam dos cinco telemóveis para os três elementos do agregado familiar;
- Encheram as prateleiras, gavetas e arrecadações com uma parafernália de pequenos eletrodomésticos, livros, dvd, bicicletas e afins, comprados em promoções e a crédito, que nunca usaram e dificilmente o irão fazer;
- Só veem quatro canais televisivos mas não abdicam do pacote completo da televisão por cabo;
- Picam o ponto à hora exata de entrada para, calmamente, irem ao café da esquina tomar o pequeno-almoço. Quinze minutos antes da hora de saída já estão prontos e aproveitam estes últimos momentos do dia (pagos ao final do mês) para poderem confraternizar com os colegas;
- Apelidam o estado de ladrão mas não hesitam em pedir o “favorzinho”, na oficina e na consulta, de não lhes passarem fatura para não terem de pagar IVA;
- Acham normal levar para casa algodão, pensos e comprimidos do hospital onde trabalham; de tirar centenas de fotocópias dos livros do puto para a escola na repartição onde trabalham (os direitos de autor que se forniquem); de aproveitar a hora de expediente e o carro da autarquia para fazer as compras para o jantar; de levar a resma de papel, os lápis, as canetas e os agrafos para casa (o estado é rico, isto não lhes faz falta);
- Utilizam os meios ao dispor nos seus empregos para fazerem mais um biscate ao amigo a troco de um preço justo – igual ao de qualquer profissional da área;
- Utilizam os plafonds para a oftalmologia para os óculos escuros de marca para a família toda («o gajo do oculista em frente à igreja é meu compadre e trata da fatura»). De vez em quando ainda conseguem fazer negócio com uma venda extra;
- Conhecem de cor e salteado os direitos que lhes assistem no trabalho mas têm dificuldade em enumerar mais que um dever;
- Para eles, a campainha do prédio foi substituída por uma chamada de telemóvel e disso não abdicam (tem mais estilo);
- Compraram ações como se estivessem numa feira a comprar farturas («não percebo nada disso, mas se o gajo rico tem, eu também tenho o direito e quero ter!»);
- Queixam-se do preço do pão, do leite, da carne e do peixe, mas nada que impeça de mais uma jantarada fora, enquanto os putos ficam na avó;
- Têm o emprego à porta do metro, do comboio ou do autocarro, mas vão de carro, que já chegou a vida inteira dos pais a andar de transportes;
- Enchem os Colombos, Allegros e Almadas Foruns (praias, se estiver bom tempo) nos dias de greve, nas baixas médicas e nos dias de assistência à família («Aturar as reuniões de escola com aquela corja de professores? Nem pensar. O miúdo já sabe ler»); Às segundas-feiras gostam de passar as manhãs nos hospitais e centros de saúde, a fim de conseguirem um belo de um atestado para descansarem dos excessos do fim de semana;
Isto e muito mais caracteriza a maioria dos indignados de hoje. Foram sprays gigantes de incúria que abriram enormes buracos na camada da sensatez, do pecúlio e do regrado.
Indignado estou eu!
- Quando sou atendido pelo estado ao mesmo tempo que sou presenteado com as gracinhas da noite anterior da Cátia Vanessa e do Ruben Emanuel, relatadas via telefone (do estado), por quem me atende;
- Quando pago a minha multa de excesso de velocidade (85 km/h numa zona de 80) enquanto o dealer (que tem na maioria das manifestações um belo leque de clientes) que foi apanhado a 190 na A5 para Cascais, não paga, vai a tribunal (com patrocínio oficioso) e fica absolvido, pois é titular do Rendimento Mínimo e dado como em situação de insuficiência económica;
- Quando sou olhado de esguelha ou me fazem esperar 10 minutos para me emitirem uma fatura;
- Quando a consulta é desmarcada à ultima da hora e depois encontramos a médica no cabeleireiro;
- Quando vejo muitos beneficiários do subsídio de desemprego, aproveitarem as horas livres (o dia todo) a trabalharem no restaurante, na oficina, na loja ou no simples biscate e auferirem (sem vínculo, é certo) o mesmo salário que o vinculado contratualmente.
Este é, maioritariamente, o nosso país.
Indignados?