A BANDEIRA
O hastear da bandeira ao contrário é um episódio de relevância, não só no domínio protocolar mas também pelo simbolismo que carrega. Em dia de comemoração da implantação da nossa forma de governo - a República -, ainda mais significado tem este episódio.
A bandeira de uma nação é um dos seus símbolos de soberania. Em tempos de conflitos bélicos, a bandeira hasteada significa a conquista de território e a afirmação de soberania. Há países que criminalizam a profanação da sua bandeira nacional. Em Portugal, o Decreto-Lei nº 157/80 confere a carga simbólica e a importância que a bandeira nacional merece.
O hastear da bandeira ao contrário, consta, que pode ser sinal de rendição, pedido de auxílio ou perigo de perda de soberania.
O lapso, incidente ou acto propositado que hoje se passou na abertura das comemorações dos 102 anos da República é, ironicamente, um retrato fiel do país face ao significado que tem o hastear da bandeira ao contrário.
Estamos rendidos às necessidades que o país tem das medidas de austeridade para restabelecer Portugal, no plano financeiro, económico, social, político, administrativo, cívico e outras doenças de que padece e que agora não me recordo;
Estamos a pedir auxílio financeiro às instituições supranacionais para que possamos fazer face às despesas necessárias para manter o país em funcionamento: salários funcionários públicos, hospitais, escolas, instituições democráticas, forças e meios de segurança, etc...;
Estamos sem soberania financeira e económica. O pedido de auxílio (vulgo «memorando de entendimento com a troika» ou apenas «troika») levou-nos a um estado de subserviência e, consequente, perda de soberania financeira e económica. Aliás, o estado português acabou por cair no mesmo erro que a maioria dos seus cidadãos e empresas, há vários anos optaram voluntariamente: estar nessa mesma subserviência e perda de soberania financeira e económica, mas perante as instituições financeiras e bancárias.
Vistas as coisas, se calhar o hastear da bandeira desta manhã de 5 de Outubro não se tratou de um lapso, incidente ou acto propositado, mas sim de um verdadeiro anúncio ao país e aos portugueses do que se passa na centenária República desta nação com 869 anos de história, e feito com um dos mais nobres e honrados símbolos de uma nação: a sua bandeira.
OS PRESIDENTES
Por hoje se comemorar a República Portuguesa parece-me pertinente também falar dos candidatos a candidatos não oficiais para as próximas eleições presidenciais.
Perfilam-se já candidatos, mesmo ainda a três anos e alguns meses de distância.
Temos o eterno candidato polivalente: Francisco Louçã.
A sua anunciada, mas ainda não concretizada, saída da liderança do Bloco de Esquerda, dar-lhe-á tempo para conquistar apoios e uma plataforma de sustentação junto da esquerda mais moderada e de alguns centralistas, com a ambição de poder ser o verdadeiro e único candidato de esquerda;
Temos os dois D.Sebastiões: António Vitorino e Marcelo Rebelo de Sousa.
O primeiro é a figura desejável para o PS (e não só) e visto por muitos, como o verdadeiro D.Sebastião socialista. Como é improvável o seu envolvimento na política partidária, a presidência é o trono desejável. Resta saber se o próprio pensa assim. O segundo é apenas D.Sebastião para ele próprio, para o Júlio Magalhães e para mais alguns que exuberam com as gafes, argumentações descontextualizadas, previsões dignas do Zandinga e algumas boas análises políticas pós-factuais. Mas o próprio, ao contrário de António Vitorino, já manifestou a disponibilidade mental para o cargo;
Temos o candidato comunista: Não interessa quem.
O importante é apresentar candidato, mobilizar militantes, ter tempos de antena, divulgar a mensagem do proletariado e falar de tudo, menos do que faria na presidência da república;
Temos o aspirante a Marcelo Rebelo de Sousa: Marques Mendes.
Baseado nas mesmas premissas sebastianistas, Marques Mendes tem a seu favor a vontade interna de muitos militantes e eleitorado do PSD. Poderão ser três anos de árduo labor televisivo para Marques Mendes conquistar esse estatuto, mas o seu recente aguçado e mordaz espírito crítico já lhe deve dar para conquistar o respeito e admiração do Júlio Magalhães;
Temos o Charles Darwin: António Costa.
Charles Darwin como honra à teoria da evolução das espécies, ou seja, o evolucionismo de presidente da Câmara de Lisboa para presidente da República, à semelhança de Jorge Sampaio e aproveitando a mesma estratégia e clima de azáfama partidária que Jorge Sampaio usou, e que se irá sentir em 2015 ou até antes. Assim que houver os primeiros sinais de eleições legislativas, que ocorrerão antes das presidenciais, António Costa, muito provavelmente, irá aproveitar para anunciar a sua candidatura presidencial. O PS ambiciona o poder executivo e terá nessa altura de desempenhar o papel de menino bem comportado, não podendo criar clivagens ou arrufos internos. Assim, no meio da confusão, o edil mor da capital tem a garantia da não contestação. Resultou com Sampaio e poderá resultar com Costa.
Temos os renegados e ostracizados: um lote de figuras políticas.
Estes renegados e ostracizados têm em comum o apoio de alguns sectores da política portuguesa que consideram (incluindo alguns dos próprios) serem talentos subvalorizados que, injustamente, foram relegados para um segundo plano. A saber, e sem critério na ordenação dos nomes: António Guterres, Manuel Monteiro, Pedro Santana Lopes, Ferro Rodrigues, Manuela Ferreira Leite, José Sócrates, António Capucho, José Ribeiro e Castro, entre outros. Aceitam-se também sugestões.
Como se vê, a escolha poderá ser vasta e diversificada. A bem da República.