Em tempos de crise todos ambicionam uma redução de custos, quer as empresas, quer a família Meireles de Rio de Mouro. O grupo Jerónimo Martins não foge à regra.
Argumentando uma redução de cinco milhões de euros anuais (5.000.000,00€ / ano), o grupo económico anunciou que a partir de Setembro, os pagamentos por multibanco nas lojas Pingo Doce só serão aceites a partir dos 20 euros.
Até aqui nada de estranho e até existem centenas de lojas, serviços e afins em Portugal que apenas aceitam pagamentos de multibanco a partir dos 5 euros, o que deu origem ao «mito urbano» que não era possível pagar despesas inferiores a 5 euros com o dito cartão de débito.
Mas, e talvez por se tratar do grupo económico em questão, a polémica sobre um «não assunto» voltou às páginas de jornais e até a DECO veio dizer que "em termos de segurança e de comodidade não são boas medidas para os consumidores."
Também as redes sociais foram sendo invadidas com anúncios de boicotes às lojas Pingo Doce, curiosamente e de uma maneira geral, pelos mesmos que protestam contra a banca e os seu lucros, contra qualquer tipo de taxa ou imposto, quer seja razoável ou não e, até mesmo daqueles que já lançaram apelos para boicotes ao uso de todo e qualquer serviço bancário, como forma de protesto.
Vistas as coisas, a DECO que se preocupou com a relação consumidor - Pingo Doce, não parece ter opinião sobre a relação consumidor Jerónimo Martins - bancos no que diz respeito aos custos inerentes à utilização de um serviço.
A maioria das opiniões publicadas na imprensa parece não apreciar uma gestão que consegue uma redução de custos na ordem dos cinco milhões de euros anuais, sem recorrer aos habituais cortes nos salários ou privilégios dos funcionários (também conhecidos como trabalhadores, numa linguagem mais popular).
Aqueles que teimam em condenar as instituições bancárias como o demo criador de todos os males das suas vidas não parecem agora ser capazes de descortinar uma redução nos lucros da banca e tirando daí um prazer mesquinho de vingança.
Parece-me que o mal tem a ver com a mentalidade e atitude lusa que ainda não assimilou que é necessário fazer sacrifícios. E se todos os sacrifícios fossem apenas no campo da comodidade e funcionalidade, como é o pagamento por cartão de débito quando compramos cebolas e alhos no Pingo Doce, estaríamos nós muito melhor. Infelizmente, os sacrifícios atuais não se resumem à comodidade e funcionalidade das nossas vidas, mas isso, certamente, não é culpa do grupo Jerónimo Martins ou das lojas Pingo Doce.
O problema (para alguns) é que a maioria não abdica do segundo telemóvel, da assinatura da revista, dos cento e muitos canais mesmo que apenas vejam quatro ou cinco, do último modelo de iPad ou smartphone, do novo LCD com tecnologia 3D, das despesas mensais pela utilização de tráfego de Internet no telemóvel para publicar fotos ou comentar o repasto nas redes sociais, em suma, de alguns privilégios considerados supérfluos, mas que para alguns são mais importantes que qualquer despesa com saúde ou educação.
Seria bom que o governo também descobrisse algumas medidas que reduzissem vários cinco milhões de euros anuais, sem qualquer tipo de prejuízo financeiro para os contribuintes. E os bancos ficarão mais pobres com esta medida? Não, passam é a ganhar menos.